Os couteiros, carreiros e lenheiros, foram os primeiros marinhenses. As raízes da Marinha Grande, quer como povoação, quer como grande centro industrial, designadamente da industria vidreira, mergulham fundo na existência do Pinhal de Leiria ou Pinhal do Rei D. Dinis.
A festa maior da nossa tradição, o feriado municipal Quinta-feira de Ascensão (Dia da Espiga) faz parte do imaginário de qualquer marinhense e está também associada ao pinhal. Nesse dia, a mata enche-se de gente miúda e graúda, de farnel em riste, à procura de uma sombra ou de um canto sossegado.
Apesar da escapada ecológica (e gastronómica) deste dia, existe, em meu entender, um deficit de empatia entre os marinhenses e a sua mata. Cabe à família, à escola e às autarquias o papel de rapidamente darmos passos no sentido da inversão definitiva desta constatação.
Em diversas ocasiões tenho manifestado a ideia de que com pouco investimento e alguma imaginação, seria possível criar nas Pedras Negras um “Centro de Animação e Interpretação Ambiental”. Este Centro seria de responsabilidade municipal, destinado a promover a educação ambiental e a criação de um corpo de vigilantes da floresta.
Durante o ano lectivo, caberia à Protecção Civil e aos Bombeiros a responsabilidade de dinamizarem, nas escolas e nas colectividades, um trabalho de sensibilização e formação, que teria como corolário um “estágio” prático em acampamento, onde seriam desenvolvidas actividades de usufruto e preservação da mata. Seria também uma oportunidade excelente para captação de novos elementos para integrarem as fileiras dos soldados da paz. Isto para além das enormes potencialidades existentes no currículo oculto de uma actividade deste género.
Neste tempo em que todos tendemos a ser mais ecológicos, por necessidade imperiosa de sobrevivência, bom seria que quem tem o poder e os meios, assumisse a sua responsabilidade. Não seriamos hoje couteiros ou lenheiros. Mas seriamos certamente cidadãos mais bem formados e preparados para o futuro.
Então provavelmente ganhariam outro sentido as palavras do poeta Afonso Lopes Vieira, escritas em homenagem ao Pinhal do Rei:
Catedral verde e sussurrante, aonde
a luz se ameiga e se esconde
e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar:
ditoso o "Lavrador" que a seu contento
por suas mãos semeou este jardim;
ditoso o Poeta que lançou ao vento
esta canção sem fim...
(Publicado em "Expressões" 2009.05.23)
domingo, 24 de maio de 2009
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