“Saudades… não têm conto –
cartas da prisão para o meu filho Toino” é uma “coletânea de pequenos textos e
desenhos dirigidos a uma criança, marcados pelo carimbo da Censura dos
carcereiros fascistas”. Foram escritos por António Dias Lourenço e dirigidos ao
seu filho Toino.
Mantive com António Dias Lourenço
vários contactos, quando, a dada altura da sua vida, tinha como tarefa transmitir
às gerações mais novas a sua riquíssima experiência de ser humano e de
comunista. Quando se deslocava à Marinha Grande e região, era em minha casa que
dormia. No dia 7 de agosto de 2013 completar-se-ão três anos do seu
desaparecimento.
Jamais conseguirei apagar em
mim a memória de ADL. Visitei com ele a Prisão do Forte de Peniche. Contou-me
detalhadamente a sua espetacular fuga. Contou-me a última vez que ali tinha
estado com o seu filho Toino, que viria a falecer pouco tempo depois… Contou-me
tantas coisas que guardo honrosamente nos arquivos da memória…
Ao recordar todos os curtos
mas intensos momentos que vivi com aquele Homem, dou-me conta de que vamos
perdendo muitos dos traços caraterísticos comuns aos homens e mulheres que, na
longa noite fascista, fizeram a resistência em Portugal. A humildade, o
espírito de sacrifício, a entrega total e sem reservas à causa, o profundo
sentimento de solidariedade e humanidade, a simplicidade… Podemos hoje ter o
peito negro de batermos com o punho na nossa afirmação de comunistas. Mas vai
faltando o sentimento solidário e humano que nos legaram as gerações que tinham
as costas negras das porradas que apanharam por lutarem por um amanhã melhor.
"Saudades… não têm conto”. Por
ti e pelo teu exemplo. Tanta falta que nos fazes, António!
Na foto, ao meu lado esquerdo António Dias Lourenço e António Tereso (um dos protagonistas da Fuga de Caxias)
Um dos postais que ADL escreveu ao seu filho Toino
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