É isto que eles querem implementar em Portugal! Tal como na Grécia! É preciso lutar!
Desempregados gregos deixam de
ter acesso a atendimento médico
LIZ ALDERMAN DO "NEW YORK TIMES", EM ATENAS
Como chefe do maior
setor de oncologia da Grécia, o médico Kostas Syrigos achou que já tinha visto
tudo. Mas nada o tinha preparado para o encontro com Elena, uma desempregada cujo
câncer de mama tinha sido diagnosticado um ano antes de sua consulta com ele.
No momento da
consulta, o tumor já tinha alcançado o tamanho de uma laranja e rompido a pele,
deixando uma ferida cujo pus ela estava enxugando com guardanapos de papel.
"Quando a vimos,
ficamos sem palavras", disse Syrigos, chefe de oncologia do Hospital Geral
Sotiria, na região central de Atenas. "Todo o mundo chorou. Coisas como
essas são descritas nos livros didáticos de medicina, mas a gente nunca via em
primeira mão porque, até agora, qualquer pessoa que adoecesse neste país sempre
podia ser atendida."
A vida na Grécia foi
virada do avesso desde que a crise da dívida tomou conta do país. Mas em poucas
áreas a mudança tem sido mais marcante que na saúde.
Até pouco tempo
atrás, a Grécia tinha um sistema de saúde típico da Europa, com empregadores e
indivíduos contribuindo para um fundo que, com assistência do governo,
financiava o atendimento médico universal. Isso mudou em julho de 2011, quando
a Grécia firmou um acordo com credores internacionais, recebendo um empréstimo
para evitar o colapso financeiro.
Agora os gregos que
perdem seus empregos recebem benefícios pelo prazo máximo de um ano. Depois
disso, se não puderem pagar a conta, eles ficam por conta própria, obrigados a
arcar com seus próprios custos de saúde.
As mudanças estão
forçando cada vez mais pessoas a buscar ajuda fora do sistema de saúde
tradicional. Elena, por exemplo, foi encaminhada para Syrigos por médicos que
participam de um movimento clandestino que surgiu no país para dar atendimento
a quem não tem seguro médico.
"Hoje, na
Grécia, estar desempregado significa a morte", disse Syrigos.
"Estamos caminhando para a mesma situação em que os Estados Unidos
estavam, na qual, se você perde o emprego e não tem convênio médico, você deixa
de ter direito a qualquer atendimento."
Com os cofres públicos
esvaziados, os suprimentos médicos estão em níveis tão baixos que alguns
pacientes têm sido forçados a trazer os seus de casa, inclusive coisas como
seringas e stents (próteses metálicas para a desobstrução de artérias).
Com a deterioração do
sistema, Syrigos e vários de seus colegas decidiram tomar as rédeas do problema
nas próprias mãos. "Somos uma rede do tipo Robin Hood", disse o
cardiologista Giorgios Vichas, que fundou o movimento clandestino em janeiro.
"Em algum momento, as pessoas não vão mais poder doar, devido à crise. É
por isso que estamos pressionando o Estado para que volte a assumir a
responsabilidade pela saúde."
Elena contou que
ficou sem seguro médico depois de abandonar seu emprego de professora para
cuidar de seus pais, que estavam com câncer, e um tio doente. Ela entrou em
pânico quando descobriu que tinha o mesmo tipo de câncer de mama que matou sua
mãe. O tratamento custaria pelo menos US$40 mil, ela ouviu dos médicos, e as
finanças de sua família estavam zeradas.
"Se eu não pudesse
vir aqui, não faria nada", ela comentou. "Hoje, na Grécia, as pessoas
precisam combinar com elas mesmas que não vão ficar muito doentes."
Tradução de Clara
Allain
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