Há textos que merecem ser lidos. Há jovens que constroem textos, que são o reflexo de uma cacacidade de construir saber e saber pensar, com a contribuição da escola e da sociedade e não por obra e graça de "mágicos e feiticeiros".
Há textos que é preciso ler! Partilho convosco o que encontrei aqui, da autoria de Inês Gonçalves.
Há textos que é preciso ler! Partilho convosco o que encontrei aqui, da autoria de Inês Gonçalves.
"Estudo no 12º ano, tenho 18
anos. Sou uma entre os 75 mil que têm o seu futuro a ser discutido na praça
pública.
Dizem que sou refém! Dizem que
me estão a prejudicar a vida! Todos falam do meu futuro, preocupam-se com ele,
dizem que interessa, que mo estão a prejudicar…
Ando há 12 anos na escola, na
escola pública.
Durante estes 12 anos aprendi.
Aprendi a ler e a escrever, aprendi as banalidades e necessidades que alguém
que não conheci considerou que me seriam úteis no futuro. Já naquela altura se
preocupavam com o meu futuro. Essas directivas eram-me passadas por pessoas,
pessoas que escolheram como profissão o ensino, que gostavam do que faziam.
As pessoas que me ensinaram
isso foram também aquelas que me ensinaram a importância do que está para além
desses domínios e me alertaram para a outra dimensão que uma escola “a sério”
deve ter: a dimensão cívica.
Eu não fui ensinada por
mágicos ou feiticeiros, fui ensinada por professores! Esses professores
ensinaram-me a mim e a milhares de outros alunos a sermos também nós pessoas,
seres pensantes e activos, não apenas bonecos recitadores!
Talvez resida ai a minha
incapacidade para perceber aqueles que se dizem tão preocupados com o meu
futuro. Talvez resida no facto de não perceber como é que alguém pode pôr em
causa a legitimidade da resistência de outrem à destruição do futuro e presente
de um país inteiro!
Onde mora a preocupação com o
futuro dos meus filhos? Dos meus netos? Quem a tem?
Onde morava essa preocupação
quando cortaram os horários lectivos para metade e mantiveram os programas?
Onde morava essa preocupação
quando criaram os mega-agrupamentos?
Onde morava essa preocupação
quando cortaram a acção social ou o passe escolar?
Onde mora essa preocupação
quando parte dos alunos que vão a exame não podem sequer pensar em usá-lo para
prosseguir estudos pois não têm posses para isso?
Não somos reféns nessa altura?
E a preocupação com o futuro
dos meus professores? Onde morava essa preocupação quando milhares de
professores foram conduzidos ao desemprego e o número de alunos por turma foi
aumentado?
Todas as atrocidades que têm
sido cometidas contra nós, alunos, e contra a qualidade do ensino que nos é
leccionado não pode ser esquecida nunca mas especialmente em momentos como
este!
Os professores não fazem greve
apenas por eles, fazem greve também por nós, alunos, e por uma escola pública
que hoje pouco mais conserva do que o nome. Fazem greve pela garantia de um
futuro!
De facto, Crato tem razão
quando diz que somos reféns, engana-se é na escolha do sequestrador!
E em relação aos reféns: não
são só os alunos; são os alunos, os professores, os encarregados de educação,
os pais, os avós, os desempregados, os precários, os emigrantes forçados... Os
reféns são todos aqueles que, em Portugal, hipotecam presentes e futuros para
satisfazer a "porra" de uma entidade que parece não saber que nós não
somos números mas sim pessoas!
Se há momentos para ser
solidária, este é um deles! Estou convosco*"
Inês Gonçalves
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