Nos passeios com o meu saudoso
pai, falávamos de coisas várias, como um pai fala com o seu filho. Mas um tema
havia sempre: a identidade da nossa existência; o respeito pelo povo ao qual pertencíamos;
os avanços e recuos na nossa vida; as nossas lutas. Também foi assim que me
tornei no que hoje sou. Contou-me uma história, que repetia recorrentemente.
Quando ele era pequeno, acompanhava o seu pai nas lides com o carro puxado
pelas vacas. O meu avó fazia do aguilhão guitarra e cantava um fado, escrito na
altura do encerramento do Sindicato, por um dos revolucionários envolvidos,
Júlio Marques (meu tio-avô), que dizia mais ou menos assim:
E nunca desanimai
Que um castelo também caiÀ vingança hão-de chegar.
Lacraram a nossa mãe
Que tantos filhinhos tem
Que se andam a abraçar.
A ferros quatro lá estão
Sem se saber a razãoNo Aljube estão internados.
Encerrem no coração
Que é a firma Roldão
Que de tudo são culpados.
Quando a roda desandar
Terão de se aguentarEsses homens de galões.
Que longe de concordarem
Que há fome em tantos lares
Se venderam aos patrões.
A nossa solidariedade
É um gesto de humanidadeQue bonito que é a união.
Que do pouco que ganhamos
Com todo o gosto pagamos
Para os camaradas sem pão.
Nós temos de triunfar
Nada de desanimarNunca deixar a trincheira.
Nas fábricas tocam apitos
Operários bradam aos gritos
Avante massa vidreira!
Em 1 de Janeiro de 1934
entra em vigor o Estatuto do Trabalho Nacional que tinha por modelo a “Carta del
Lavoro” de Mussolini e decretava a ilegalização dos sindicatos livres. A classe
operária reage de imediato. A apelo das organizações sindicais, no dia 18 de
Janeiro de 1934 desenvolve-se no país uma greve de características
insurreccionais. Em Silves, em Coimbra e nas zonas operárias de Lisboa, no
Barreiro e em Setúbal registam-se acções grevistas e manifestações. Mas é na Marinha Grande
que a greve alcança maiores proporções. A greve, encabeçada por militantes
comunistas (José Gregório, António Guerra e outros), teve a adesão maciça dos
trabalhadores, que ocuparam a vila durante várias horas. Depois, de Leiria,
chegaram as forças da repressão ...
4 comentários:
É por tudo isto que eu tenho um enorme orgulho em ser vidreiro, e ter dentro das minhas limitações tentado manter viva a memória do 18 de Janeiro de 1934.
Viva o 18 de janeiro
Alfredo Poeiras: digno Embaixador da arte do vidro!
Tenho orgulho em seres meu amigo!!
Ai que falta fazem Homens com ideais, principios e valores de outros tempos... um abraço Tojeira
Júlio Baridó
O 18 Janeiro continua a ser um marco na luta da classe operária portuguesa! Ontem como hoje é aos comunistas que compete levantarem bem alto a bandeira dos oprimidos!
Um grande abraço para ti Paulo.
José Bandeira
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