Tanto localmente como a nível nacional, alguns (muitos? poucos?) se têm interrogado sobre como se vive internamente no PCP. A resposta está clara na obra de Álvaro Cunhal "O partido com paredes de vidro". Esta obra impar no panorama político mundial reveste-se de acrescida importância para todos aqueles que, como eu, sentem orgulho em se afirmarem comunistas! É através de documentos fundamentais como este que devemos aferir permanentemente a nossa prática, a nossa conduta, a nossa inserção no trabalho coletivo. Quem dirige, terá responsabilidades acrescidas no escrupuloso cumprimento dos princípios definidos. No momento em que a luta cresce por todo o país e somos chamados a intervir no plano social, no plano político e no plano eleitoral, deixo-vos um pequeno excerto acerca de:
O PROFUNDO SIGNIFICADO DA DEMOCRACIA INTERNA
“Na experiência do
PCP, a democracia interna, em que assenta o centralismo na sua mais elevada
acepção, acabou por traduzir-se, através de um demorado e criativo trabalho
educativo e pela convergência de todos os seus princípios, normas e práticas,
numa característica essencial do Partido na actualidade: o trabalho colectivo, a
noção e a dinâmica do grande colectivo partidário. Democracia tem de significar
uma intervenção efectiva das organizações de base e dos membros do colectivo no
exame dos problemas e na elaboração da orientação partidária. A democracia
interna pressupõe o hábito de ouvir, com respeito efectivo e interesse de compreender
e aprender, opiniões diferentes e eventualmente discordantes. Pressupõe a
consciência de que, como regra, o colectivo vê melhor que o indivíduo. Pressupõe
a consciência em cada militante de que os outros camaradas podem conhecer, ver
e analisar melhor os problemas e ter opiniões mais justas e mais correctas. A
democracia interna é um conjunto de princípios e uma orientação do trabalho prático
que se insere na esfera da teoria, da política, da prática e da ética. A democracia interna
do Partido é uma forma de decidir, um método de trabalho, um critério de discussão
e de decisão, uma maneira de actuar e de estar na vida, uma forma de pensar, de
sentir e de viver. Democracia implica um elevado conceito acerca do ser. Por
isso o comunista educado nos princípios democráticos é democrata sem esforço. É
democrata porque não sabe pensar e proceder de outro modo. Porque não tem um
desmedido orgulho e vaidade individual. Porque tem consciência das suas
próprias limitações. Porque respeita, porque ouve, porque aprende, porque
aceita que os outros podem ter razão. Este profundo conteúdo da democracia
interna do Partido é o resultado de uma
larga evolução e de uma acumulação de experiências, próprias e alheias. Muito
há ainda que melhorar e aperfeiçoar.”
In: “O partido com paredes de vidro – Álvaro Cunhal”,
2010, P. 110