"A frase retirada do Livro dos Conselhos: “Se podes olhar, vê! Se podes ver,
repara”
Para Saramago a visão divide-se em vários patamares: olhar, ver e
reparar são as suas três declinações, sendo que a primeira, de carácter nível
mais elementar, implicando, por isso, uma panorâmica geral, isto é, pressupõe o
abarcar de um determinado espaço que é “varrido” pela vista, sem contudo se
deter, muito sobre nenhum aspeto em particular. Logo depois vem o “ver” que
obriga a fixar a vista em algo que chamou a atenção durante o “olhar”,
pressupondo, já, algum grau de descodificação ou capacidade de interpretação.
Como se a lente ocular ampliasse o objeto, tal como a lente de um binóculo, de
um telescópio ou mesmo dum microscópio. Por último, o grau máximo de precisão
nesta escala tem a ver com o ato de “reparar” em algo. O aspeto focado no
estágio anterior é, além de analisado e dissecado, retido na memória a longo
prazo. A memória é que permite a deteção, identificação, ligação e finalmente a
compreensão das situações, por analogia, proporcionando as adaptações do
comportamento necessárias à mudança."
Quando o olhar “varre” o horizonte das pessoas, mas o ver se aplica na
forma de “subjetivo solitário”, que só repara no que para si brilha, a memória
apenas deteta, identifica e compreende o que dá jeito.
Vários “olhares”, multiplicam-se em múltiplos “veres”, que brindam múltiplos
“reparares”. Quando só um para de olhos vê, em pouco reparam. Tristes dos que estão
cegos, porque apesar de crerem o contrário, não olham, não vêm, nem reparam!
O antídoto para esta cegueira, é o trabalho coletivo! Com o olhar, o ver e o reparar de muitos.
Até lá, será a tristeza da cegueira e da derrota!...
Sem comentários:
Enviar um comentário