domingo, 24 de fevereiro de 2013

“Se podes olhar, vê! Se podes ver, repara”

"A frase retirada do Livro dos Conselhos: “Se podes olhar, vê! Se podes ver, repara”
Para Saramago a visão divide-se em vários patamares: olhar, ver e reparar são as suas três declinações, sendo que a primeira, de carácter nível mais elementar, implicando, por isso, uma panorâmica geral, isto é, pressupõe o abarcar de um determinado espaço que é “varrido” pela vista, sem contudo se deter, muito sobre nenhum aspeto em particular. Logo depois vem o “ver” que obriga a fixar a vista em algo que chamou a atenção durante o “olhar”, pressupondo, já, algum grau de descodificação ou capacidade de interpretação. Como se a lente ocular ampliasse o objeto, tal como a lente de um binóculo, de um telescópio ou mesmo dum microscópio. Por último, o grau máximo de precisão nesta escala tem a ver com o ato de “reparar” em algo. O aspeto focado no estágio anterior é, além de analisado e dissecado, retido na memória a longo prazo. A memória é que permite a deteção, identificação, ligação e finalmente a compreensão das situações, por analogia, proporcionando as adaptações do comportamento necessárias à mudança."
Quando o olhar “varre” o horizonte das pessoas, mas o ver se aplica na forma de “subjetivo solitário”, que só repara no que para si brilha, a memória apenas deteta, identifica e compreende o que dá jeito.
Vários “olhares”, multiplicam-se em múltiplos “veres”, que brindam múltiplos “reparares”. Quando só um para de olhos vê, em pouco reparam. Tristes dos que estão cegos, porque apesar de crerem o contrário, não olham, não vêm, nem reparam!
O antídoto para esta cegueira, é o trabalho coletivo! Com o olhar, o ver e o reparar de muitos. Até lá, será a tristeza da cegueira e da derrota!...
 

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