quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Luís Vaz de Camões
"Enquanto viveu queixou-se várias vezes de alegadas injustiças que sofrera, e da escassa atenção que a sua obra recebia, mas pouco depois de falecer a sua poesia começou a ser reconhecida como valiosa e de alto padrão estético por vários nomes importantes da literatura europeia, ganhando prestígio sempre crescente entre o público e os conhecedores e influenciando gerações de poetas em vários países."
Como Luís de Camões muitos e muitos pensadores e artistas do ato, da palavra, do gesto oudo som, trabalhadores intelectuais ou físicos, são sistemáticamente ignorados em vida, definhando lentamente às mãos dos chico-espertos de serviço.
Que se mudem os tempos! que se mudem as vontades!
 
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.


Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
 
Cantado por José Mário Branco. Ao piano António vitorino de Almeida.
 
 
 
 
 


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