Como professor, como dirigente associativo, como líder de jovens e nas actividades médicas a que me dedico, confronto-me todos os dias com tarefas de direcção. Creio que uma boa preparação filosofica e conceptual é parte importante da minha capacidade de intervenção. Reconheço-vos que a obra cujo excerto vos apresento, constitui para mim fonte de permanente ensinamento e a ela recorro amiude, lendo, relendo e estudando cada capítulo... Deixo-vos mais um pedaço de texto, que ganha renovada importância quando enquadrado com as praticas em que nos envolvemos nas nossas vidas...
"A TAREFA COMPLEXA DE DIRIGIR
…
O trabalho de direcção envolve assim grandes
responsabilidades, múltiplas competências e latos poderes. É essencial que o
seu exercício seja conforme com os princípios orgânicos do Partido e, em
particular, com o respeito da democracia interna e com a concepção do trabalho
colectivo. Dirigir não é mandar, nem comandar, nem dar ordens, nem impor. É,
antes de tudo, conhecer, indicar, explicar, ajudar, convencer, dinamizar. São
péssimos traços para dirigentes o espírito autoritário, o gosto do mando, a
ideia da superioridade em relação aos menos responsáveis, o hábito de decidir
por si só, a suficiência, a vaidade, o esquematismo e a rigidez na exigência do
cumprimento das instruções. Uma qualidade essencial num dirigente comunista é a
consciência de que tem sempre de aprender, tem sempre de enriquecer a sua
experiência, tem sempre de saber ouvir as organizações e os militantes que
dirige.
E, quando se fala em ouvir, não se trata apenas de
ouvir num gesto formal, protocolar e condescendente. Não se trata de receber passivamente
e registar por obrigação o que os outros
dizem. Trata-se de conhecer, de aproveitar e de
aprender com a informação, a opinião e a experiência dos outros. Trata-se
eventualmente de modificar ou rectificar a opinião própria em função dessa informação,
opinião e experiência.
A experiência de cada dirigente individualmente
considerado é de grande valia. Mas a experiência dos dirigentes tem de saber
fundir a experiência própria com a assimilação da experiência do Partido.
Daqui resulta que um dirigente dá uma contribuição
tanto mais rica, positiva e criativa quanto mais baseia a sua opinião no
entendimento da opinião dos outros e na assimilação da experiência colectiva,
quanto mais consegue que o seu pensamento traduza, expresse e sintetize o pensamento
elaborado colectivamente. Não apenas do seu organismo. Mas da sua organização.
E do Partido em geral.
Perigoso para uma direcção e para os dirigentes (em
qualquer escalão) viverem e pensarem num círculo fechado e à parte. Quando isso
acontece, o ângulo de visão torna-se limitado e estreito. Aparece a tendência
para atribuir à organização respectiva ou a todo o Partido ou às massas a
opinião desse círculo estreito. Diminui a capacidade de apreender e conhecer o
verdadeiro sentir e as verdadeiras aspirações e disposições do Partido e das
massas. É indispensável, para um correcto trabalho de direcção, o estreito
contacto com a organização, com os militantes e, sempre que possível, com os
trabalhadores democratas sem partido. É de evitar tudo quanto tenda a
distanciar os dirigentes da base do Partido. E de estimular tudo quanto
aproxime e ligue num esforço conjunto todas as organizações e militantes, compreendendo
os dirigentes.”
…
In: “O partido com paredesde vidro”, Álvaro Cunhal, 2010, pp.129-131
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