“Nunca tal se vira nos ecrãs dos
nossos televisores: um mar de gente a perder de vista, a não caber no
enquadramento mesmo quando filmado em larguíssimos “plongés” com as câmaras
decerto instaladas em helicópteros; abundantes planos intermédios que “desciam”
até aos grandes planos de entrevistas sem que contudo se perdesse por muito
tempo a visão de conjunto; demorada atenção prestada a cartazes e panos;
recolha de muitos depoimentos indignados, alguns deles pungentes. Era sem
dúvida uma gigantesca manifestação e, também sem dúvida, era a televisão
empenhada em dar testemunho dessa dimensão inédita mediante uma cobertura
também sem precedentes e de algum modo surpreendente. Porque, como bem se sabe,
a televisão, quer a pública quer a privada, sempre deu sinais de não gostar
muito de manifestações. Fornecia-nos delas algumas imagens, é certo, mas eram
quase sempre umas coisinhas aparentemente recolhidas sem entusiasmo, no género
não propriamente de cumprir serviços mínimos, mas antes de prestar serviços minimizados.
Mas desta vez não foi assim. Por vezes se diria que a reportagem era um
complemento da manifestação, que com ela verdadeiramente fraternizava.”
“Mesmo quando parecem informar, as televisões escolhem cuidadosamente o que querem mostrar, por exemplo de uma grande manifestação de massas. É o genuíno protesto? É o repúdio pela política do governo por parte de muita gente que há tão poucos meses votara nos partidos que o compõem? Não! É no “apartidarismo” e no “anti-partidarismo” de alguns. Porque os interesses ao serviço de quem existem sabem muito bem que o perigo não é o protesto. O perigo é o protesto organizado!”
Correia
da Fonseca in: http://www.odiario.info/?p=2629
Sem comentários:
Enviar um comentário